quarta-feira, 25 de março de 2009

Uma pequena e rápida entrevista com Martim César

Quais as tuas inspirações para poesia, o Rodrigo Jacques sempre diz que pensa, sonha e escreve em espanhol, como é pra ti isso?
A inspiração é algo que não se prevê. Simplesmente brota. Então não há como pensar algo em português e passar para o espanhol ou vice-versa; o tema vem. A idéia emerge de algum lugar e já vem no seu idioma. Sou apaixonado pelas palavras, pela sonoridade das línguas, tenham elas a orgem que tenham. Vou te dar um exemplo: chalouá. Essa é uma palavra charrua que significa menina. Muchacha, em espanhol. Chalouá... não te dá algo de doce e sonoramente belono ouvido??? Pois bem, essa palavra me inspirou um romance charrua. E assim vai.


E como você vê essa mistura, essa mescla de línguas e essa onda fortissima de influência do folclore argentino na cultura no Rio Grande do Sul?
Eu tenho uma teoria. A dos círculos concêntricos. Como demonstrá-la? Jogas uma pedra na água de um lago e vês as ondas se propagando em círculos. Onde quero chegar? Qualquer criador traz ao mundo uma obra que tem um epicentro em algum lugar. Alguns têm vários epicentros (como no caso do genial Jorge Luís Borges, mas vamos tratar de um criador com um epicentro). Dali se propaga sua obra. E dentro daqueles círculos se encontram outros criadores que se identificam, no espaço e no tempo, de alguma maneira com aquele que o antecedeu. Mas esse novo criador criará uma obra também única, que - se for de alto valor - alcançará também um grande espaço e tempo. Ou seja, a música de valor da argentina e do uruguay nos chega porque estamos dentro desses círculos. E a de cada um de nós vai se propagando da mesma forma.

E como você vê essa influência aqui em SC?
Vejo baseado na mesma teoria. E há que se recordar que na origem de muitos que aí vivem está a mesma cultura ancestral pampeana. Mal comparando, é como aquelas sementes de flores que dormem no deserto do Atacama (o mais árido do mundo) e que quando chega finalmente a chuva (às vezes somente uma vez em uma década) elas voltam a dar vida e colorido à paisagem. Creio que quando alguém dessa região ouve, cria ou canta algo da cultura da grande Pampa é por que realmente sente isso na alma. Tinha sementes adormecidas e que finalmente encontraram a chuva que necessitavam para mostrar a sua arte.

2 comentários:

Unknown disse...

Uma rápida entrevista, que deixa clara o sentimento e a inspiração que estão por trás de suas obras. A origem e a simplicidade mescladas com a naturalidade do entendimento da vida faz com que aflore o poeta numa "Pequena e rápida entrevista".

Saludos, e gracias Martim César, por fazer com o coração o que nos toca a alma!

OseasTormen - Sorriso de Minguante - Março de 2009

geni disse...

Sou um grande admirador do trabalho do Martim Cesar Gonçalves! É bom ver um pouco da "vida"... inspirações, cotidiano, o pensar etc... dessas pessoas que paramos pra ouvir diariamente.

Uma vez tive a felicidade de vê-lo no festival da Aldeia de Gravataí e o gratificante disso tudo é, que além, da simplicidade, o carater, a humildade... tu pode falar "que em algum lugar desse Brasil, a menor cidade que seje, tem gente que seva um mate ouvindo teus lindos versos".

Aquele trabalho MARIA CONCEIÇÃO, canta MARTIM CESAR E PAULO TIMM é pra mim, um dos melhores cd´s que tenho em meus acervos, e olha que tenho muita coisa boa!!!

Parabéns Patrícia, sempre me deixando hipnotizado quando entro aqui!!

Genilson / Treviso SC